Segunda, quando ele estava voltando pra casa (ou voltando de casa, já que nem sei mais se a casa dele é aqui ou lá), lhe ocorreu que ele é a pessoa certa pra muita gente. Sabe aquela história de que "a pessoa certa faz tudo certinho: chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente está precisando das coisas certas"? Pois é. Ele é um autêntico exemplo de pessoa certa. Mas que culpa eu tenho se as pessoas erradas são muito mais interessantes? Eu juro que tentei ensiná-lo a ser a pessoa errada, mas ele não aprende nunca! Já cansei de repetir as mesmas coisas, mas ele não me dá ouvidos.
Eu não consigo entendê-lo. Tento, analiso, observo os fatos, mas não consigo. Ele continua vendo a vida com aqueles olhos de menino. Menino que acabou de entrar na escola e ora se sente maravilhado, ora sente medo. Onde ele pensa que vai chegar com esses olhos de menino? Quando é que ele vai amadurecer esses olhos de menino?
Toda vez que falo do assunto, ele desconversa e diz que certas coisas é melhor não aprender. Certa vez, ele teve a audácia de me dizer que o melhor a se fazer é enxergar tudo como se fosse a primeira vez. Todo dia, um primeiro dia. Toda lua cheia, uma primeira lua cheia. Todo passo na areia da praia, como se fosse o primeiro passo. Todo gol, como se fosse o primeiro gol. Todo beijo, um primeiro beijo. Todo relacionamento como se fosse o primeiro, como se nunca tivesse sofrido, nunca tivesse brigado, nunca tivesse se decepcionado, nunca tivesse sido deixado, sido esquecido, chorado, se magoado, amado... Todo dia, um primeiro dia.
Onde ele vai parar vendo com esses velhos olhos de menino? Onde é que ele vai parar com esse velho coração de menino? Quando ele vai aprender a ser a pessoa errada? Quando ele vai aprender a não ser a pessoa certa o tempo todo?