Jogou aquela tralha toda na calçada e decidiu que chamaria aquele canto de lar. Um colchão velho, um cobertor mais velho ainda, um par de chinelos sujos e maltratados, botas gastas, meia dúzia de roupas, dois bonés e um binóculo. Este último, por sua vez, ele havia encontrado no lixo em bom estado e carregava sempre consigo. A dignidade ele havia deixado para trás, há vários quarteirões dali.
Com o dinheiro que arrecadou com a esmola do dia, foi até a lanchonete da esquina, comprou um pão com presunto e o resto de cachaça. Saiu de lá se apoiando no ócio e quase tropeçou quatro vezes, mexeu com duas moças que passavam, clamou pelas putas do puteiro ali ao lado, ensaiou uma dança sem música, um discurso sem platéia, sentou em seu canto e se pôs a bater uma punheta ali mesmo. Era ele e seu momento egoísta de prazer. Pronto. Estava realizado por hoje. Podia dormir em paz.
Acordou no susto e viu carros. Muitos carros. Quase mais carros do que pessoas. Buzinasgritospassosmotoresfreiadastropeçosconversascelularestocandobuzinasemaisbuzinascaos. Estava tudo ali ao mesmo tempo. Três crianças fumavam crack logo ali, enquanto outras duas pediam esmola no semáforo. Ezequiel nem chamava mais tanta atenção. Vários outros como ele transitavam naquela rua. Subitamente, ele havia até recuperado seu nome. Pegou o binóculo e começou a observar os detalhes. Naquele momento, ele era o único que enxergava.
6 de out. de 2009
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3 comentários:
A história do Toby.
Ficou muito boa! (:
Adoro seu jeito de escrever, Léo e seus títulos também são sempre interessantes.
Tem dias que fico abismada com sua criatividade e percepção das coisas. Prosa totalmente pé no chão, com uma linguagem que prende a gente.
Você. Um excelente escritor.
Parabéns.
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