16 de nov. de 2010

5 anos e 5 meses

Nascimento

Uma dor de dente inesperada tirou-o do trabalho mais cedo. Um dos sócios até ligou dizendo que havia um trabalho urgente aguardando aprovação, mas ele foi firme e disse que só veria isso no dia seguinte. Depois do dentista, foi direto para casa. Acabou cochilando no sofá. Não conseguia se lembrar qual fora a última vez que dormira a tarde.

Levantou, foi até a cozinha assaltar qualquer coisa na geladeira e depois caminhou até seu quarto. Sua esposa estava para chegar. Se o trânsito estivesse bom, em uma hora e meia, ela estaria em casa. Naquele momento, sentiu uma grande vontade de estar com ela, abraçá-la, buscá-la no trabalho, levar ao cinema, para jantar, perguntar se ela gostaria de se casar com ele, etc e tal. Ficou imaginando-a com aquela voz doce "Mas amor, nós já estamos casados já faz uns 2 anos!" e ele responderia surpreso com aquele sotaque que sempre o acompanhava "É verdade. Então casemos de novo, que tal?" e ela iria sorrir bem sorrido. Era gostoso imaginar ele imaginando aquilo. Podia sentir daqui a felicidade dele.

Abriu a caixa no fundo do armário e ficou revirando as fotos e os bilhetinhos da época de solteiro. Divertiu-se muito lembrando-se da origem das brincadeiras que ainda acompanham o dia a dia deles. O amor é uma eterna descoberta. O casamento então, mesmo tendo tudo par ser monótono e morno, é feito de microdescobertas diárias e novidades eventuais. Começou a pensar de como gostava daquela rotina, pois valorizava os dias em que um dos dois decidiam quebrá-la. Pensou no Xadrez das segundas, a Canastra com os vizinhos do apartamento de baixo, o cinema das quintas, o jantar fora das sextas e os passeios dos domingos. Nem toda rotina é chata, mas decidiu que aquele dia era um daqueles dias de se quebrar a rotina.

Catou uns dois pacotes de post-its e começou a escrever tudo o que vinha pela frente, tudo que o fazia lembrar dela. Encheu as paredes e móveis da casa de termos indecifráveis e sem sentido algum, a não ser para eles mesmos. "Veio janeiro", "Fevereiro e Junho", "17, 02 e 25", "Boraceia", "pppsp", "feromônio" e até "touro mecânico" eram algumas das coisas que consegui passar os olhos. Não fazia a menor ideia do que poderiam ser, mas ele estava certo de que ela entenderia.

No dia seguinte, iria fazer 5 anos e 5 meses que eles estavam juntos. Houve uma época em que eles comemoravam todo mês. Já fazia um tempo que não faziam isso, mas ele decidiu que hoje iriam comemorar. No chão da sala, de frente para a porta da entrada, fez um cartaz all type com letras bem trabalhadas que quase pareciam figuras. O cartaz dizia "Feliz 5 anos e 5 meses, amor. Quer se casar comigo?".

Escondeu-se debaixo da cama feito criança. De repente, o trinco da porta anunciava a chegada de alguém. Era ela.

Quase nove meses depois, em um belo dia dezessete de primavera, Isabela veio ao mundo.

Um comentário:

Lilly disse...
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