Eu batia na porta querendo entrar e ela trancava, colocava o armário na frente, fechava a janela. Tem algo assim muito diferente, um coração descrente. Não é o meu, obstante, continuo andando, vendo a luz. A estrada é íngreme e cheia de cacos, objetos jogados. Acho que vi uma foto nossa ali no chão, deixada. Fui resgatando tudo de importante que encontrei. Minha calça preta, meu copo, o chaveiro que ela nunca usou. Vi o cão de pelúcia, o Sansão, até um sorriso no chão. Será que ela abandonou até os risos? Até as frases? Foram tantas frases, tantas palavras diminutivas. Todas pelo chão, decidiu soltar minha mão, enfim. Será que ainda se lembra dos fatos? Dos acasos? Será que ela lembra da minha cara de desespero quando o assunto era fim? Do medo de perdê-la? Do medo de não tê-la? Será que pensa que menti? Será que pensa que fingi? De tanto tentar não perder, perdi, se foi, partiu. Demorei tempo demais para chegar até o final, na tentativa tresloucada de salvar tudo. Nem sei se salvei. Talvez tenha faltado o mais importante. -Ei senhor, você viu um coração por aí? -Não vi não, rapaz. Não passou por aqui, já procurou no Morro do Adeus? - Não procurei não senhor, o Morro do Adeus é tão longe e tão definitivo. Prefiro acreditar que, no máximo, ele foi para o Morro do Até Logo. Ah... Mas como eu queria que estivesse aqui no Morro da Saudade. Saudade.
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Um comentário:
tantos lugares pra procurar, deixe esse morro por ultimo; ele costuma esconder as coisas até q vc se canse de procurar, e então ele coloca o que vc procura na sua frente
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