20 de jan. de 2014

É

Quando eu te vi subindo as escadas do Hortomercado, vindo ao meu encontro, eu torci com todas as minhas forças que você fosse uma chata, fosse metida a besta, gostasse só de música ruim, ficasse o tempo todo no celular, que o seu perfume me desse alergia, mas não, nada disso. E você ainda tinha que chegar com aquele sorriso de deixar a vida em slow motion por alguns instantes.

Mais tarde, quando saímos pra jantar, eu torci pra nossa conversa não fluir e os dois ficarem olhando para o relógio a cada dois minutos até que um começasse a bocejar e o outro pedisse a conta. Eu tentei te olhar e te achar feia. Quando te beijei, torci pra não gostar, pra ser sem graça, sem gosto, sem vontade. Mas não, nada disso. E você continuava com aquele sorriso de deixar cada segundo durando quase um minuto, sem que a gente perceba o tempo passando.

No dia seguinte, me restou torcer pra que eu não sentisse vontade de te beijar de novo, que fosse coisa das várias cervejas da noite anterior. Torci pra perceber que você é fresca, te achar burrinha, sem conteúdo, pra que você fosse do tipo que disputa minha atenção com os amigos ou do tipo que fica pedindo pra gente se sentar bem na hora do show. Mas não, nada disso. Ficou ali esbanjando simpatia e, vez ou outra, me olhando com aquele olhar de "vem cá".

No domingo, já não tinha mais esperanças, já não torcia. Quis que você se atrasasse no encontro pra ver se ficava com um pouco de raiva de você, mas você chegou primeiro que eu. Transformou um simples passeio no shopping center na coisa mais divertida do mundo. Quase perdemos a hora da sessão de um filme que eu queria muito ver por causa da prosa solta. Era agora. Você tinha que ser do tipo que falava o filme inteiro, dormisse e perguntava o que tinha perdido. Era a minha última chance de não gostar de você. Mas não, claro que não. Fez foi ficar me fazendo carinho na mão o filme inteiro.

É... É.

Hoje, antes de partir, tive um sonho ruim com você. A gente precisa mesmo dessas fugas de realidade, de vez em quando.

Um comentário:

Unknown disse...

É... é!
Lindo texto Leo! Tá bem inspirado, né? haha