22 de jul. de 2010

O assalto

Sequestraram meus versos

Fiquei a semana toda tentando escrever um poema novo para você. Tentei soneto. A e B, A e B. Tentei acróstico com seu nome. Tentei "Curciniano", com meus versos irregulares. Tentei, em vão, plagiar Vinícius, Saramago e Neruda. Fui ler crônicas de Carpinejar para tentar fugir dos versos. Fugi.

Era para ser uma surpresa, mas a demora fez você vir se queixar.

__Acho que você não gosta mais de mim. Não me escreve mais coisas bonitas. Fico esperando aquela declaração e ela não vem. Tá tudo bem?

Mulher quando pergunta se está tudo bem, pode ter certeza que tem alguma coisa muito errada. Você deve estar relapso e distante. Ela deve estar descontente com o cabelo e com a falta de sapatos. Pode estar de TPM, pode ter outro, sei lá. Qualquer palavra pode ser fatal. Qualquer ausência de palavras, também.

Perdão, amor. O cansaço e a falta de tempo roubaram minha inspiração. Sequestaram meus versos e o preço do resgate é alto. Não tenho como pagar agora. Já avisei à polícia sobre o caso, mas ainda não encontraram vestígios. Nem sinal das minhas rimas tortas. Se estiverem vivas, devem estar sendo torturadas em algum cativeiro sujo e escuro, pagando o pato pela minha falta de ação. Eu lamento muito.

Lamento muito por querer te presentear com belas palavras e não estar conseguindo despistar o briefing mal digerido, o orçamento que ainda não foi aprovado, a reunião desmarcada e os zeros a menos na conta bancária.

Sei que você merece muito mais que telefonemas cotidianos e volúpias casuais, mas é que agora falta-me a crase. Estou ciente que deixar faltar a crase é um erro terrível. É pior que deixar faltar a vírgula ou ponto final. Muitas coisas perdem totalmente o sentido, tornam-se abruptas e indiferentes. Mas prometo correr atrás do prejuízo na semana que vem. Prometo bem prometido.

Não é falta de apreço. Não é falta de amor, não é elo perdido, muito menos estou menos apaixonado. Não tenho outra, não quero ter um caso. Amar você já me ocupa um coração inteiro, não restam arestas, não sobra nenhum espaço. Não esquece que não te esqueço. Mesmo quando as palavras me esquecem, mesmo quando a sorte não lembra que existo, mesmo quando a maré não quer encher. Não esquece que não te esqueço, meu bem.

9 comentários:

pp disse...

O meu dia até então tinha as cores de um nevoeiro. E você, com todo o seu amor, com todo o seu talento, com tudo que é tão seu, tudo isso que te torna essa pessoa incrível pela qual eu sou tão apaixonada, você, Leonardo, fez o meu dia sorrir.

Obrigada, obrigada.

pp disse...

Só pra você não esquecer: te amo! (:

Débora Andrade, disse...

eu tenho um custume de ver os blogs desconecidos, mas só ver, nunca leio nada, pois na maioria das vezes não chamam minha atenção. quando "pasei para o blog seguinte" e abriu o seu eu altomaticamente pensei nossa, mais um blog igual aos outros, porem quando passei os olhos nesse primeiro texto mesmo sem ter nenhuma imagem nem nada algo me chamou atenção.
parabéns pelas palavras bem ditas.

Iuri disse...

É o tipo de escrito com o qual é dificil eu não me identificar, seja para o bem ou para o mal.

esqueci a ana (ex-ana) disse...

Gostei muito de ler. Vou fazer uma chamada com link no meu blogue.

Lu disse...

Por vezes o fluxo criativo nos abandona.Tenho sofrido desse mal.
Aí escrevemos sobre a falta dele...rs
Beijo!

A Mor.. disse...

Qunado falta palavras, pq não não sorriso sincero ou um olhar carregado de bem querer?!

Que sentimento graça, que texto feliz.

=]

Anônimo disse...

Gostei do Blog, tem um bom conteudo, gostaria de contar com vc no meu blog, se vc virarem seguidores do meu blog posso manda augusn letores pra voces! Veja Meu blog http://garagem-jovem.blogspot.com

Victor Meira disse...

Ah, mon amour... Tu n'est pas un écrivain... Tu es un fleuriste.