11 de set. de 2009

Ausência

Acordei às 3 e 47 com uma ligação no celular. Era meu anjo da guarda se queixando sobre minha inquestionável desatenção. Parecia tão perplexo, tão perdido que as palavras vinham soltas, ficavam no ar. Depois dessa ligação, eu senti um breve mal-estar. Senti a janela do quarto tremer e, depois, parecia que alguém estava batendo. Ensaiei por alguns segundos mantendo meu rosto no travesseiro até que tomei coragem e olhei através das cortinas. Aparentemente, ninguém. Naquele instante, me veio um calafrio de cima a baixo. Levantei e fui beber água. Dei uma rápida volta no apartamento pra ver se encontrava algo atípico. Nada. Todos dormiam em paz. Deitei novamente e a sensação continuava. Cheguei a sentir algo gélido tocar rapidamente meu dorso. Passou logo em seguida. Comecei a prestar atenção nos ruídos na janela. Calculava se as batidas aconteciam no momento seguinte em que os carros passavam lá em baixo. Não aconteciam. Me preocupei em calcular a velocidade do vento lá fora. Mal tinha vento lá fora. Entendi que aquele incômodo deveria ser psicológico. Não havia nada de assombrado ali. Eram só paredes, janelas, alguns poucos móveis e muita angústia. Muita desatenção. Liguei pro meu anjo da guarda. Ele ainda estava perturbado. Tentei falar algumas breves palavras na tentativa de expressar um pouco o que estava sentindo. Não acho que tenha conseguido cumprir a missão, mas falar com ele me trouxe uma leve sensação de conforto e dever cumprido, mesmo que a conversa tenha dado a entender que ele queira ficar um tempo longe, descansando em sua nuvem, recuperando suas asas, de repente, até guardando outra pessoa. Desatenção deve dar muito trabalho pra anjo da guarda. Eu não o culpo por isso.

Eis que hoje eu acordei pela metade. Acordei meio sem vontade. Eis que hoje o dia não nasceu. Eu que achei que não precisava de anjo da guarda, lamentei a ausência do meu.