19 de nov. de 2011

SHOT

Desce um shot que hoje é festa da firma
Firma os pés, ajeita o sal e o limão
Viu a mensagem que deixei na sua caixa postal?
Ah, essa vida de internet, mais um shot, chat
Aposto que não respondeu porque me achou sem sal
Sacal, quem sabe, um tipo assim bem demodé
Perdão, menina que passa e nem olha pro lado, perdão
Foi o jeito que encontrei de chamar sua atenção
Essa bronca que tu banca me mata, me apeia
Vem sempre aqui? Tem namorado? Quantos anos tem?
Não, não se faz essas perguntas para ninguém
Nem mulher faceira cai nesse blablablá sem graça
Que dirá você com todo esse “deixa pra lá, disfarça”? 
Ah, não... O namorado chegou, fica aqui mais um pouco
Senta, eu ainda nem tenho seu telefone, o nome completo,
A cor preferida, o signo, o endereço pr’eu mandar um cartão
Gostei da roupa, desculpa, vou tocar seu cabelo, sentir o cheiro
Qualquer coisa, a culpa é do álcool que me embriagou
Quando cansar desse moço, me empresta seu rosto, vem 
Quis tão bem quisto, que tão breve, você, enfim, cansou
Quelqu’un m’a dit que acabou, fiquei feliz, não nego
Agora que cheguei lá, ne me quitte pas?

24 de out. de 2011

Ódio

-Quer ler e me dar sua opinião?
-Eu o odeio.
-Mas você nem leu.
-Se for ruim, vou odiar porque detesto má literatura. Se for bom, vou ficar com inveja por não tê-lo escrito, então irei odiá-lo.

Trecho de Meia Noite em Paris, Woody Allen.

9 de ago. de 2011

Mais um poema que deixei de escrever


O poema que eu deixei de escrever,
Falaria de você e dessa semana que passou
Falaria das dúvidas e das surpresas
Iria contradizer cada palavra
Que as nossas mãos digitaram
E até as que recusamos a escrever
Cada tecla, cada clique, cada espaço

O poema que eu deixei de escrever,
Seria na verdade uma ameaça
Calaria minha boca, a mordaça
Não seria uma desgraça por não ser
Os meus versos talvez fossem sem querer,
Uma ofensa à sua crença, a sua discricão
Essa que eu também acreditava ter

O poema que eu deixei de escrever,
Não seria de valia nenhuma
Não mudaria sua vida
Talvez, só confundisse essa paz
Então, rasquei, joguei fora, deixei de escrever
Deixei palavra para trás, sem termi

8 de jun. de 2011

A Rosa

Dancei à luz do bar
Tão imediata e sexy
Era ali meu momento livre
Com exceção da prisão dos
Olhos alheios compenetrados
Penetrando meus traços,
Minhas curvas e vestido branco
Flanco, suficientemente curto
Que era pra quase você ver
O que tenho a te oferecer
Em noites como hoje, de lua minguante
Cheia de graça, me arrasta,
Me traça e joga na sua cama,
Me chama de musa, de bem-estar
Me diz no ouvido coisas boas de escutar
Pode ser safadeza, destreza, sobremesa
Eu quero dançar até o sol raiar.

15 de mar. de 2011

Doce de março

Depois do pranto, o doce desencanto
Paz em dia de guerra e em dia santo
Voltei a ser o poeta que fala de amor
Mesmo nunca tendo amado ninguém
Sim, é como se não tivesse existido
Não é amargura, nem coração partido
É convicção plena, anestesia extrema
Ah, o doce tilintar dessa liberdade
Deixou meus ouvidos boêmios com vontade
E o coração fica buscando grandes paixões
Novas nações, intensas canções de bar
Deixa esse coração bater e a mente destoar
Mas quem é essa que veio sem avisar?
Será que quer te mostrar como é amar?
Anda feito você, só não quer sofrer
Eram pra ser só encontros casuais?
Armênia, Tucuruvi, Tietê, Consolação
Doce brigadeiro, jeito certo de segurar a mão
A espera no ponto, o atraso no encontro
O baton vermelho, o perfume, a foto no espelho
Quarta-feira, sábado e domingo
Cadê aqueles doces olhos castanhos
E os cabelos que a barba bagunçou?
Será que foi embora e não volta mais?
Peço desculpas se fiz o que não devia,
Falei em demasia, pensei o que não podia,
Se quis o beijo doce todo dia
Será que foi embora e não volta mais?
Se assim fez, me resta deixá-la em paz,
Mesmo sabendo que poderia ser muito mais.

4 de fev. de 2011

Pedindo reza

Ao passo que subo os degraus da Catedral da Sé,
Busco lembranças distintas, já bem saciadas
Dos surrados tempos que eu ainda tinha fé
E pensar que hoje, eu me ajoelho e nem sei mais rezar

Acabei de errar o Pai Nosso e até a Ave Maria
Eu esqueci as palavras, esqueci como era acreditar,
Mas já que esse Deus existe, vim dar bom dia
Ele há de responder e eu vou dizer amém

Cumpri meu dever de filho, me banhei de água benta, enfim
Na volta, vi pessoas jogadas às traças, desejando o fim
E eu aqui querendo redenção? E eu aqui pedindo a sua mão?

Pensando bem, Deus, me esqueça, pode deixar
Vá cuidar dessa gente toda, elas precisam mais
Olha por mim amanhã, quando a tempestade passar.

25 de jan. de 2011

O viciado

Desceu o mapa em busca de aventura. Já que a vida é feita de breves alegrias, só queria escrever um miniconto sem rasura. Queria perder por alguns instantes essa fissura, esquecer. Mas pensar em esquecer já é se lembrar. Precisava tentar, precisava tentar, precisava. Parecia castigo divino, o corpo dela atenta. Teu corpo reluta, mas a hora passa lenta. Tenta. Tenta. Tenta. Não! Não liga. Não escreve. Não pensa. Sei que ainda a enxerga em seus sonhos, mas precisa deixá-la partir. A saudade é traiçoeira, mas é questão de sobrevivência agora. Ela não te enxerga mais. Essa é a razão. E não pense que ela é má por isso. Não importa se não tem sentido, se houve ou não houve motivo. Só aceite que ela preferiu soltar tua mão. Vamos, levanta. Levanta desse chão. Vai sujar a calça que te comprei semana passada em ponta de estoque. Vamos, me dê sua mão. Esquece aquela curva antes do portão. Lembra que é um vício e tem cura. Tem que ir até o fim agora. O processo é lento, mas o resultado é garantido. Vai passar.

20 de jan. de 2011

Fé passageira

Chega de falar de amor, de romance
Já que a musa se foi, vou mudar de assunto
Vou falar de devaneios, mundanices,
Falar de alegrias, tudo isso junto

Garanto, prova de amor maior não há
Abrir mão do amor pro outro ser feliz
Eu sei, não foi isso que eu quis,
Mas a vida tem lá os seus anseios

De repente, o vento passa e leva tudo embora
Me deixa aqui sem teto, sem parede, sem chão
Outrora a fé é passageira, outrora não

Calço o sapato, visto a roupa nova e vou embora
Pra onde, ainda não sei, isso pouco importa
Junto os cacos, fecho a janela, tranco a porta.

8 de jan. de 2011

O assaltante

Pode, pode levar o que quiser de mim
Leva o celular, leva a carteira, os rins
E se puder, leva também meu coração

Pode, pode levar todo o meu dinheiro
Leva o relógio, leva o quarto inteiro,
O carro que eu ainda pago à prestação

Pode, pode ficar com minha sexta-feira,
Sábado e domingo, a semana inteira,
Leva contigo meu amigo violão

Senhor ladrão, encontrou o cara certo
Não pretendo reagir, eu não quero mais confusão
Vai pra casa e paga as contas da família
Só com esse assalto, faturou mais de um milhão

Pode, pode levar o que quiser de mim
Leva a TV, as flores do jardim
Mas por favor, não esquece o coração

Leva contigo os meus versos tolos
Leva os retratos, os quadros da parede
Pode levar também a minha rede
Os discos, o som, leva o liquidificador

Tritura toda essa loucura, esse descontrole
Essa agonia, a nostalgia, minha cacofonia
Pode levar contigo os cacos, leva o fim do dia
Boa sorte companheiro, faça bom proveito

Não foi tudo em vão.

6 de jan. de 2011

Poema do portão e da porta

Entrava no poema como quem entra num bar
E sai bêbado caindo pela falta de chão
A poesia era um buraco maior que o buraco
Sem fundo, descendo até o fim do mundo

Entro no poema como quem come arroz e feijão
E sai dia afora para encarar a existência
A poesia lava os pés e as lágrimas
A poesia acalma as lástimas

Queria entoar meus versos na estrada
Mas são mais de 500 quilometros de ida e volta
Mais a voltinha do portão, mais os metros da porta

Queria ensinar as pessoas a escreverem versos
Para todo mundo escrever poesia nesse mundo vagabundo
Todo mundo sentir bem sentido, lá no fundo.