26 de dez. de 2010

Queridas epifanias

Ensaiei versos cantados
Tateei belas palavras
Busquei  rendondilhas
Frases repetidas,
Pequenas alegrias,
A visão do firmamento
Não vi mais, nem ouvi
Não li, não senti
Saudade das nossas
Queridas epifanias,
As tardes de maresia,
As brincadeiras no colchão,
Nossas roupas pelo chão,
Os cachorros pela casa,
Todas as horas de estrada
Não vi mais, nem ouvi
Não li, não senti.

22 de dez. de 2010

O carrinho amarelo

Quando eu era menino, bem menino, tinha uns 5 ou 6 anos de idade, eu morava numa pequena cidade lá do interiorzão de Minas e costumava brincar com o Edu, meu vizinho, um garotinho que tinha mais ou menos a minha idade. Lembro que o Edu ia até a minha casa e ficávamos brincando de carrinho no quintal. Ele levava uns dois ou três carrinhos dele e eu pegava os que eu tinha, que não eram muitos também. Dentre esses, tinha um amarelo que era o meu preferido. Ele era realmente muito mais bonito que os outros e, por conta isso, o Edu sempre pedia pra brincar com ele. Eu ficava meio chateado, mas acabava deixando o Edu brincar com ele e pegava um outro dele, que era o segundo mais bonito.

Certa vez, fomos começar a brincar e eu disse pro Edu que naquele dia, eu iria brincar com o meu carrinho amarelo, já que eu nunca brincava com ele. O Edu, em uma negativa firme e decidida, contrariado, se levantou e disse que desse jeito, ele não brincava, que só brincava se fosse com o amarelo. Eu tentei convencê-lo de fazer diferente, já que eu sempre deixava ele brincar com o carrinho, mas ele foi irredutível e, como eu estava muito a fim de brincar, acabei cedendo.

Brincamos durante um bom tempo, que não saberia dizer quanto, já que o dia passa muito mais rápido na infância e depois o Edu foi embora. No dia seguinte, o Edu veio cedo com os carrinhos, me chamando pra brincar. Na hora de escolher o carrinho que cada um iria controlar, lá foi ele de novo pegando o meu carrinho amarelo preferido. Eu olhei pra ele com cara de bravo e lembro dele ter dito algo como: "Ah... Nem vem. Para de reclamar e vamos brincar logo, poxa!". E essa situação se repetiu mais alguns dias. Eu acabava me divertindo brincando com o Edu, mas sempre ficava chateado, porque ele nunca me deixava brincar com o meu carrinho amarelo.

Eis que um dia, eu bati o pé e disse que iria ficar com o amarelo, pois nunca tinha brincado com ele. O Edu pegou os carrinhos dele contrariado, saiu dizendo que eu era um traíra ou qualquer coisa do tipo e disse que não brincaria comigo nunca mais, que a partir daquele dia, eu não era mais amigo dele.

Mais tarde, fui contar pra minha mãe o que tinha acontecido e ela ficou muito brava comigo. Ela me deu uma bronca daquelas que eu nunca esqueci. "Mas o que é isso que você tá fazendo? Amizade não se compra! Isso é um absurdo! Como você se prestou a um papel desses? Se o Eduardo gostasse mesmo de você, ele iria querer brincar, independente de você emprestar ou não o seu carrinho. Quando a pessoa gosta mesmo de você, ela cede também, não é assim. Se você fizer isso de novo, vai tomar uma surra pra largar de ser bobo. Tá avisado!" - disse a minha mãe quase gritando, totalmente nervosa. Acho que foi o jeito dela de tentar me ensinar a dizer não.

Depois desse dia, o Edu não apareceu mais lá em casa. Eu fiquei bem triste pelo sumiço dele, porque não tinha mais com quem brincar. Meu irmão era bem pequeno naquela época, devia ter uns 2 anos de idade, e não sabia brincar de carrinho. Lembro de ter ficado um bom tempo vendo televisão e brincando sozinho. Eu pegava pedaços de tijolo das casas em construção e desenhava pistas de corrida no quintal, como se fossem circuitos de competição para os meus carrinhos. Eu era o piloto do carro amarelo e sempre era campeão. Foi nessa época que meu pai me deu um Atari de presente de natal e até jogava comigo, as vezes, pra eu não ficar só brincando sozinho.

Depois, veio a escolinha e comecei a fazer novos amiguinhos, que aceitavam brincar comigo mesmo se eu não emprestasse meu carrinho favorito. E hoje, me pergunto: será que aprendi a dizer não? Saudades de olhar com os olhos daquele menino.

16 de dez. de 2010

Vinte e três

Era para ser um dia de fé renovada
Um dia de dezembro, mais um mês
A verdade foi perdida, alterada
Busquei vinte e três motivos, vinte e três
Escolhi vinte e três poemas de amor, mandei
Pensei em vinte e três palavras,
Vinte e três momentos e anseios,
Acendi vinte e três velas e, eu, ateu,
Rezei vinte e três minutos ajoelhado
Vinte e três contados, de olhos fechados
Logo eu que sempre busquei a verdade
Acabei deixando faltar o que não devia
Falta de amor não teve, no máximo, afasia
Ah, se eu tivesse mais um dia, mais um dia...

11 de dez. de 2010

Por um segundo

Prefiro o teu excesso a tua ausência
Prefiro a tua bronca a essa paz
Prefiro tua indecisão, o teu impulso,
Teu discurso de ira, seu tanto faz
O pulso acelerado, o coração magoado
Deixa a porta aberta e finja que esqueceu
Ninguém vai saber, nem eu
E se por um segundo eu entrar
Valeu a pena, valeu.

10 de dez. de 2010

Obstante

Eu batia na porta querendo entrar e ela trancava, colocava o armário na frente, fechava a janela. Tem algo assim muito diferente, um coração descrente. Não é o meu, obstante, continuo andando, vendo a luz. A estrada é íngreme e cheia de cacos, objetos jogados. Acho que vi uma foto nossa ali no chão, deixada. Fui resgatando tudo de importante que encontrei. Minha calça preta, meu copo, o chaveiro que ela nunca usou. Vi o cão de pelúcia, o Sansão, até um sorriso no chão. Será que ela abandonou até os risos? Até as frases? Foram tantas frases, tantas palavras diminutivas. Todas pelo chão, decidiu soltar minha mão, enfim. Será que ainda se lembra dos fatos? Dos acasos? Será que ela lembra da minha cara de desespero quando o assunto era fim? Do medo de perdê-la? Do medo de não tê-la? Será que pensa que menti? Será que pensa que fingi? De tanto tentar não perder, perdi, se foi, partiu. Demorei tempo demais para chegar até o final, na tentativa tresloucada de salvar tudo. Nem sei se salvei. Talvez tenha faltado o mais importante. -Ei senhor, você viu um coração por aí? -Não vi não, rapaz. Não passou por aqui, já procurou no Morro do Adeus? - Não procurei não senhor, o Morro do Adeus é tão longe e tão definitivo. Prefiro acreditar que, no máximo, ele foi para o Morro do Até Logo. Ah... Mas como eu queria que estivesse aqui no Morro da Saudade. Saudade.

18 de nov. de 2010

A cura para todo mal

Renúncia

Não se desespere não, amor
Nosso amor não tem cura
Ele é a cura para todo mal
É o que resta depois da festa,
É o que fica depois do beijo,
Depois do gozo, depois do banho
É desejo de vingança, outra dança
É o princípio do acaso infinito,
Do passado bem dito, futuro bem quisto
É nossa eterna infância, esperança
Pensa que pode ser e será
Sei que andou pensando em virar lembrança
Olhou e relutou com a aliança 
"Será que me amas de leve
Ou me amas de monte?" - pensou
"Na dúvida, é melhor não amá-lo mais!"
"É isso! Devo esquecê-lo, enfim."
Quis porque quis desejar o fim
Quis porque quis perder a esperança,
Abrir mão da infância, sei lá
Tanto tentou, que cansou de tentar
Devo ser mesmo um sujeito despreparado
Falta o caminho, falta cuidado
Falta o teu corpo e o sutiã apertado
Falta mais aquele eu que mora afastado
Fui buscá-lo, mas não encontrei
Deixou um recado anotado
Com os garranchos pintados de azul
"Só volto se ela disser que fica.
Mas tem que ficar bem ficado,
Querer bem quisto, amar de monte,
Como eu quero, como eu amo."
E não se esqueça mais
Que nosso amor não tem cura
Ele é a cura para todo mal.

16 de nov. de 2010

5 anos e 5 meses

Nascimento

Uma dor de dente inesperada tirou-o do trabalho mais cedo. Um dos sócios até ligou dizendo que havia um trabalho urgente aguardando aprovação, mas ele foi firme e disse que só veria isso no dia seguinte. Depois do dentista, foi direto para casa. Acabou cochilando no sofá. Não conseguia se lembrar qual fora a última vez que dormira a tarde.

Levantou, foi até a cozinha assaltar qualquer coisa na geladeira e depois caminhou até seu quarto. Sua esposa estava para chegar. Se o trânsito estivesse bom, em uma hora e meia, ela estaria em casa. Naquele momento, sentiu uma grande vontade de estar com ela, abraçá-la, buscá-la no trabalho, levar ao cinema, para jantar, perguntar se ela gostaria de se casar com ele, etc e tal. Ficou imaginando-a com aquela voz doce "Mas amor, nós já estamos casados já faz uns 2 anos!" e ele responderia surpreso com aquele sotaque que sempre o acompanhava "É verdade. Então casemos de novo, que tal?" e ela iria sorrir bem sorrido. Era gostoso imaginar ele imaginando aquilo. Podia sentir daqui a felicidade dele.

Abriu a caixa no fundo do armário e ficou revirando as fotos e os bilhetinhos da época de solteiro. Divertiu-se muito lembrando-se da origem das brincadeiras que ainda acompanham o dia a dia deles. O amor é uma eterna descoberta. O casamento então, mesmo tendo tudo par ser monótono e morno, é feito de microdescobertas diárias e novidades eventuais. Começou a pensar de como gostava daquela rotina, pois valorizava os dias em que um dos dois decidiam quebrá-la. Pensou no Xadrez das segundas, a Canastra com os vizinhos do apartamento de baixo, o cinema das quintas, o jantar fora das sextas e os passeios dos domingos. Nem toda rotina é chata, mas decidiu que aquele dia era um daqueles dias de se quebrar a rotina.

Catou uns dois pacotes de post-its e começou a escrever tudo o que vinha pela frente, tudo que o fazia lembrar dela. Encheu as paredes e móveis da casa de termos indecifráveis e sem sentido algum, a não ser para eles mesmos. "Veio janeiro", "Fevereiro e Junho", "17, 02 e 25", "Boraceia", "pppsp", "feromônio" e até "touro mecânico" eram algumas das coisas que consegui passar os olhos. Não fazia a menor ideia do que poderiam ser, mas ele estava certo de que ela entenderia.

No dia seguinte, iria fazer 5 anos e 5 meses que eles estavam juntos. Houve uma época em que eles comemoravam todo mês. Já fazia um tempo que não faziam isso, mas ele decidiu que hoje iriam comemorar. No chão da sala, de frente para a porta da entrada, fez um cartaz all type com letras bem trabalhadas que quase pareciam figuras. O cartaz dizia "Feliz 5 anos e 5 meses, amor. Quer se casar comigo?".

Escondeu-se debaixo da cama feito criança. De repente, o trinco da porta anunciava a chegada de alguém. Era ela.

Quase nove meses depois, em um belo dia dezessete de primavera, Isabela veio ao mundo.

8 de nov. de 2010

Partiu...

Desencontro

Sentou na calçada para chorar as mágoas tripudiadas
As vistas cansadas, as ausências pré datadas
Chorou as dívidas impagáveis e brigas recentes
Lamentou a nulidade profissional e a crise pessoal
Embriagou-se da angústia congestionada
Sentiu-se como barco à vela em tempestade
Como aeromotor em turbulencia
Ficou sem freios, só anseios
Perdeu a cabeça e a cabelo
Perdeu-se

Se encontrá-lo, por favor, me avise
Sua mãe ainda espera revê-lo
Talvez, seja a única.

21 de out. de 2010

Inebriam

Ensolarada ou nublada

Teus nublados céus que hora inebriam
E hora me mostram o horizonte distante
Ainda são os mesmos céus azuis de mar
Os mesmos ceús de nuvens brancas de uma
Tarde ensolarada de um dia de surpresas

Suas manhãs ainda não são tranquilas,
Mas prefiro a surpresa de cada dia
Nem sempre quero a parcimônia
Quero muito mais que a noite sonha

Ainda prefiro suas manhãs nubladas
Suas noites enluaradas ou sem lua
Ainda é você, sobre tudo.

3 de set. de 2010

Quando eu morrer, vá ao meu velório

Quando eu morrer, vá ao meu velório, por favor. E se não for pedir muito, chore um pouco e coloque flores no caixão. Chame os mendigos, os amigos dos seus amigos. Chame os que estiverem passando por lá. Só não deixe aquele lugar vazio, pelamordedeus. Vai parecer que minha vida não fez sentido.

O problema de morar longe, ser fechado e meio nômade é que você não desenvolve laços, não cria vínculos. Quem em sua sã consciência vai até tão longe para se despedir de um semi-amigo? O mundo é das conveniências. No máximo, vão me mandar um e-mail ou deixar uma mensagem fúnebre no Facebook. Mensagem a um defunto. É a vida convertida em bytes.

Tenho medo de ir embora sem deixar nada, sem deixar herdeiros, ir embora às pressas, sem fazer diferença. E se a namorada me deixa antes de virar esposa? E se meus amigos me esquecem? Meus sócios me expulsam e compram minha parte? Meus funcionários me processam? E se minha hora for daqui a pouco?

Senhor, se tu existes mesmo, não me deixes cair em ostracismo. Não me deixe ir sem deixar, ao menos, vaga lembrança, uma mensagem de esperança e meia página de versos guardados.

22 de jul. de 2010

O assalto

Sequestraram meus versos

Fiquei a semana toda tentando escrever um poema novo para você. Tentei soneto. A e B, A e B. Tentei acróstico com seu nome. Tentei "Curciniano", com meus versos irregulares. Tentei, em vão, plagiar Vinícius, Saramago e Neruda. Fui ler crônicas de Carpinejar para tentar fugir dos versos. Fugi.

Era para ser uma surpresa, mas a demora fez você vir se queixar.

__Acho que você não gosta mais de mim. Não me escreve mais coisas bonitas. Fico esperando aquela declaração e ela não vem. Tá tudo bem?

Mulher quando pergunta se está tudo bem, pode ter certeza que tem alguma coisa muito errada. Você deve estar relapso e distante. Ela deve estar descontente com o cabelo e com a falta de sapatos. Pode estar de TPM, pode ter outro, sei lá. Qualquer palavra pode ser fatal. Qualquer ausência de palavras, também.

Perdão, amor. O cansaço e a falta de tempo roubaram minha inspiração. Sequestaram meus versos e o preço do resgate é alto. Não tenho como pagar agora. Já avisei à polícia sobre o caso, mas ainda não encontraram vestígios. Nem sinal das minhas rimas tortas. Se estiverem vivas, devem estar sendo torturadas em algum cativeiro sujo e escuro, pagando o pato pela minha falta de ação. Eu lamento muito.

Lamento muito por querer te presentear com belas palavras e não estar conseguindo despistar o briefing mal digerido, o orçamento que ainda não foi aprovado, a reunião desmarcada e os zeros a menos na conta bancária.

Sei que você merece muito mais que telefonemas cotidianos e volúpias casuais, mas é que agora falta-me a crase. Estou ciente que deixar faltar a crase é um erro terrível. É pior que deixar faltar a vírgula ou ponto final. Muitas coisas perdem totalmente o sentido, tornam-se abruptas e indiferentes. Mas prometo correr atrás do prejuízo na semana que vem. Prometo bem prometido.

Não é falta de apreço. Não é falta de amor, não é elo perdido, muito menos estou menos apaixonado. Não tenho outra, não quero ter um caso. Amar você já me ocupa um coração inteiro, não restam arestas, não sobra nenhum espaço. Não esquece que não te esqueço. Mesmo quando as palavras me esquecem, mesmo quando a sorte não lembra que existo, mesmo quando a maré não quer encher. Não esquece que não te esqueço, meu bem.

13 de jul. de 2010

Brilha

Diáspora

Eu queria te levar pra jantar essa noite. Um jantar às escuras com direito a vinho e mãos dadas. Uma noite nua sem horas contadas. Eu queria compensar meu mau jeito. Compensar seu esforço de admirar meu rosto. Os pés no chão e a cabeça erguida. Voz contida, paz declarada. Eu queria mais você na minha estrada. Queria mais você nessa noite zangada. Queria compensar seus braços e pernas. Seios, anseios, língua e pescoço. Queria compensar as horas perdidas com discussões sem fundamento. Segurar a paz, celebrar o esforço. Meu cansaço, o seu sofrimento. Queria beijos ao vento, sem roupa, sem lamento. Me ajuda a jogar fora essas cartas marcadas. Me ajuda a enterrar as diásporas, o tédio e o infame. Manda pra cá mais uma dose desse sorriso, mais um pouquinho desses olhos brilhantes. Brilha.

Te amo, te odeio

Para depois da guerra

Odeio discutir com você antes de dormir. Isso me tira o tesão do sono. Me faz ter pesadelos. Me faz acordar mau humorado e até mais gripado que ontem. A Sinusite ataca forte. Parece que até acordo mais azarado: a energia acaba quando vou tomar banho, chove quando estou sem guarda-chuva, desço no ponto errado, chego atrasado.

Odeio quando a gente briga. Odeio quando a gente não se entende. Mas brigar com você e acordar querendo te ouvir é uma certeza de que te amo. É na ausência que percebemos que amamos. É com as coisas banais que o amor se constrói. Não é quando digo "eu te amo", é quando digo "eu te odeio". A gente odeia quem a gente ama, de vez em quando. Deve ser por isso que dizem que amor e ódio são sentimentos próximos. Próximos pela intensidade. A gente ama quem a gente odeia, de vez em quando.

Sei que te amo não pela linda noite de amor de anteontem no meu quarto, o almoço abraçados, a tarde no charmoso café. Sei que te amo por te achar linda de manhã, pela sua cara de felicidade quando dá gargalhadas, pelas brincadeiras bobas na cama e no sofá, por odiar quando briga comigo, por odiar meus ataques de ciúmes e os seus ataques de ciúmes. Te amo porque te odeio de vez em quando. Te amo porque te amo sempre, mesmo quando te odeio.

6 de jul. de 2010

Um texto bem eu

Tem dia

Tem dia que eu sinto falta da falta que eu sentia de morar numa metrópole. Acordo com um pensamento provinciano mesmo. Dá vontade de trocar de vida, de vez em quando.

Chegar no trabalho em quinze minutos. Voltar pra almoçar a comida da mãe. Abraçar o pai e o irmão. Almôndegas ao molho de tomate e suco de limão. Descer pra conversar com o Tota, o Cabeça, o Katuso, o Bizu e o Brunete. Tocar violão com o Victor. Ir ao pit dog com o Renan. Jogar Play Station com o Brunão. Fazer Muay Thai e depois ir tomar açaí com o Josivan e o Sebinha. Falar de futebol com o Vinicera e o Seu Geraldo. Os futebóis de sábado no Crac-Bol. Tirar a Cota da gaiola. Andar sem medo de me perder e ir parar numa bocada. Estacionar o carro na rua sem preocupação. Ficar esperando um tempão para o Seu Edmílson abrir o portão da garagem. Disputar o computador com o irmão. Tomar café com pão. Levar bronca do pai. Comer o bolo de laranja que minha mãe fazia e eu detestava.

Tem dia que eu quero qualidade de vida. Tem dia que eu quero esse caos. Tem dia que quero todos os amigos por perto. Tem dia que quero ficar só com ela. Tem dia que quero ficar só. Tem dia que tudo. Tem dia que nada. Tem dia que é hora, que é minuto, que não passa. Dá vontade de trocar de vida, de vez em quando.

Deixar o carro em casa e ir trabalhar de busão. Forçar as vistas e ir lendo no caminho. Tomar capuccino com açúcar. Reclamar de briefing mal feito, resolver logo briefing bem feito. Ir almoçar no restaurante baratinho do chinês. Comprar chocolate na padoca. Comer tudo de uma vez. Trabalhar muito. Falar de trabalho. Voltar a pé pensando na morte da bezerra. Trabalhar mais. Pagar as contas. Deixar as contas vencerem pra ir viajar. Rir da risada do Xandão. Perder no Street Fighter pro Matoza. Perder o busão. Brincar de Clube da Luta com o Pedro. Tomar um puta chute naquelelugarquedóipracaraleo. Comprar cerveja ao invés de comida. Começar uma dieta saudável pra perder barriga. Falar de trabalho. Torcer pro sucesso chegar. Pra sexta-feira voltar. Dá vontade de trocar de vida, de vez em quando.

Ir ao supermercado comprar Maizena pra Lucia e Coca-Cola pra Dona Cida. Passar na banca e comprar o gibi da Mônica pro Rafa. Sair com a Aline pra tomar coquetéis e depois apagar com ela debaixo do edredon. Discutir por coisas bobas só pra fazer as pazes. Deixar a Poly deitar na cama pra ver se ela para de latir. Abrir a porta de madrugada quando ela quiser sair. Levar a Keila pra passear. Tomar sorvete até enjoar. Ver filme antigo na TV. Perder feio na Canastra. Comer aquele delicioso macarrão com carne moída. Desejar tudo isso pra toda a vida.

Dá vontade de trocar de vida, de vez em quando. Não trocar de vida com alguém. Trocar comigo mesmo. Tem dia que tudo. Tem dia que nada. Tem dia que é hora, que é minuto, que não passa.

30 de jun. de 2010

Aceitou

Receita

Nega-me o pão, a carne e o vinho
Faz-se ferida com a minha saída
Me coloca para dormir no sofá
E amanhã, deita comigo despida
Faz cara feia se alguém me encara
Briga comigo se acha que olhei de volta
Finge que não liga se eu não ligo
Finge que não ama se não digo
Faz do meu domingo um castigo
Desconfia do meu futebol
Do meu anúncio, meu Sí bemol
Diz que está insatisfeita,
Que queria a vida refeita,
Sair para encontrar o príncipe encantado
Volta dizendo que já encontrou
Volta tão certa que já se encantou
Tirando tudo de imperfeito em mim
Sei que resta algo de bom pra ti
E eu sei que você sabe que é amor
Eu sei que você sabe
Aceitou, aceitou.

7 de mai. de 2010

Feira

O dobro

O fim de semana passou e eu nem vi
Sexta-feira virou segunda-feira
E agora lá em casa como eu vou fazer
Geladeira não tem nada pra comer
A feira passou e eu não fiz a feira

A conta de luz já vai vencer
Instalei tv a cabo pra ver o timão vencer
Mas ele perdeu na quarta-feira
E minha nega não entende a choradeira
Ela acha que o problema é ela, que besteira

Mas se o patrão me liberar, nega
Juro que fico com você a semana inteira
À sua maneira, à sua maneira, sua maneira
Suando com você a noite inteira
Sonhando com você a noite inteira

Rezei pra São Jorge e Senhor do Bonfim
Fui jogar minha bola, cuidei do jardim
Trouxe flores pra nega na quinta-feira
Levei ela no samba de gafieira
Samba a noite inteira, samba a noite inteira

Ah... Sexta-feira é dia de me arrumar
Vou pedir um aumento e torcer pra ganhar
O patrão não gostou e me mandou embora
Ah nega, não chora, não precisa chorar
Vambora pro samba, se arruma e vamos sambar

E agora lá em casa como eu vou fazer
A conta de luz já vai vencer
E eu suando com você a noite inteira
Samba a noite inteira, samba a noite inteira
Ah nega, não chora, não precisa chorar

Segunda-feira volto a trabalhar e vou ganhar o dobro.

4 de mai. de 2010

Abrigo

Engano algum

Não me julgue pelo sorriso exposto
Pela lucidez de volta em meu rosto
É que a paz chegou e eu fiz abrigo
Não pense assim que eu me acomodei
Só porque com você, de novo, me deitei
Me entreguei, meu bem, me entreguei
Então deixa assim, sereno, eu mereço
Eu mereço essa nota, você merece essa paz
Obrigado por expulsar a repulsa,
Desespero não é prova de amor e por isso jaz
Amar é prender sem vontade, sem cais
Eu quero mais é, contigo, navegar
Sair da margem, ir bem além do mar
Onde você possa sorrir sem nenhum engano
Dizer "Meu bem, eu te amo, eu te amo".

20 de mar. de 2010

Alegrias de menino

Mantra

Eu li um mantra pra espantar esse mal
Passei Methiolate pra curar a ferida
Chorei, depois dei graças a Deus pela vida
É que o pedaço de mim com mais poesia
É, consequentemente, o corpo inteiro
Transbordo palavras pra compor os versos
Minhas pernas e meus braços, as estrofes
Eu queria ser um texto corrido, sem alegorias
Um romance policial com aventura e final feliz
Gosto de suspense, gosto de mistério
Não gosto é de não ser levado a sério
Quero a prateleira, a vitrine de um best-seller
Sem perder o emblema de um clássico,
Sem perder a alegria de um infantil
Quero ilustrações em cores, vetores,
Letras finas e bem diagramadas
Quero outros temas, outras escolas
Quero papel chique nas minhas sacolas
Quero o inverno, quero o outono
A neve na estrada, as folhas caídas
Quero as pequenas alegrias de menino.

18 de mar. de 2010

Fluoxetina

Prescrição médica

Hoje cedo, fui ao médico
Doutor falou que meu problema tem cura
O tempo há de enfrentar essa loucura
Ah... O tempo e seus devaneios ensaiados
Não quero esperar, pois o tempo é vagabundo
Pode ser hoje, pode ser no fim do mundo
O tempo não tem horários marcados
Não tem datas previstas, nem anseios
Só quero seguir sem todos esses receios
O álcool alheio virou meu aliado
Anestesia barata, dormir embriagado
Acordar e tomar tudo de volta
Vomitar o esforço do dia seguinte
Tudo pra não sonhar o sonho sonhado
Tudo pra esconder o coração assustado
Queria arrancar de mim esse maldito
Quem dera, abandonar esse bastardo
Pedi um remédio pra iludir a alma
Um remédio pra tranquilizar o fígado
Pedi e o doutor me receitou Fluoxetina
Começo amanhã, de 12 em 12 horas
Agora sim eu esqueço essa rotina...

17 de mar. de 2010

Cansou

Poesia inacabada

Hoje era mais um dia

De comemorar conquista nobre
Dedicar à musa um poema de amor
Mostrar a ela, postar no blog
Refugiar-se no íntimo de seu quarto
Planejar o nome do primeiro filho
Da segunda, dos cachorros,
Hoje era dia pra ser um dia feliz
De transformar verdade em poesia
Mas a poesia ficou triste,
Incompleta, a rima cansou






14 de mar. de 2010

Vulgar

Brusco desencanto

Vulgar foi a falta que fez
Até nossos dias de tédio
A moléstia pro seu remédio
O esforço pra ter sua mão

Imoral é essa livre afasia
Que se apossou do meu dia-a-dia
A ansiedade que invadiu o quarto
A verdade que não tem perdão

Foi brusco como perder o encanto
Perder a fé em noite de dia santo
Um copo cheio de água e mágoa
Pra curar sua tosse e o soluço

Tão forte quanto ainda sentir seu cheiro
No meu carro inteiro, no travesseiro
É o medo de não passar nunca
De não ir embora essa esperança

Desejei bem mais o recomeço
Voltar a frequentar seu endereço
Ficou esse receio do adeus definitivo
Um vazio sem volta, sem adjetivo.

13 de mar. de 2010

Samba

Seresta

Ela foi pra farra
Se divertiu na festa
Bebeu todo o vinho
Dançou todas as músicas
Encantou todos os rapazes
E, talvez, por bondade
Não quis se encantar
Voltou no raiar do dia
Acordou só de tardinha
Com meia vontade de me ligar
Almoçou bem almoçado
Banhou-se bem banhado
Sentou toda gracinha
Com seu jeito de menina
E pôs-se a estudar

Ligou o Eduardo,
Ligou o Caio, o Bonzinho,
Márcio, Renan e Quinho
No corpo, uma blusa
O coração palpita uma letargia
Fez que ia, mas a cabeça ardia
Deixa essa menina sambar em paz
Deixa essa menina sambar.

Memórias 2

O último bilhete

Entrou no ônibus
Olhou pra trás pela última vez
"Não veio, seguiu"
Tinha que seguir também
Entrou e deitou na poltrona
Fechou os olhos, mas não dormia
Lá vem a chuva pra molhar essa tristeza
Lá vem a estrada pra aumentar essa azia
Derramou na blusa a última lágrima
Reservou no peito aquele vazio
Guardou com carinho o último bilhete.

Memórias

O melhor do máximo

Guardava suas melhores cuecas e
Suas melhores roupas pra quando ia vê-la
Pra ela, ele tentava se fazer bonito,
Tentava fazer seu melhor leiaute,
Usava o melhor perfume, o melhor sapato,
Penteava melhor o cabelo, se olhava mais no espelho
Pra ela, ele fazia melhor a barba,
Tomava os melhores banhos e
Escovava melhor os dentes,
Lavava os cotovelos, o vão dos dedos,
Esfregava os joelhos e os pés descalços
Pra ela, ele escreveu seus melhores poemas,
Dedicou seus melhores sorrisos,
Deu seus melhores presentes
Com ela, teve seus melhores beijos,
Os melhores brinquedos,
As mais doces memórias

Ficou essa vontade desnorteada,
Toda essa dor nas juntas,
Uma quimera aqui no peito
Ficou sem jeito, perdeu o rumo.

11 de mar. de 2010

Retirou

A cura

Retirou todas as fotos
Escondeu meu porta-retrato
Se desfez dos belos fatos
Praticou a arte do desapego
Foi sem medo, tirou o anel

Sei que leu meus versos
Tão singelos, tão seus
Sei que viu meus recados
Tão jogados, tão meus
Talvez, nem se encante mais

Pedi que o amanhã chegasse
Que o vento retornasse
Pedi luz de velas, mais um mês
Traguei a sorte, joguei xadrez e
Levei um cheque do freguês

Comprei cebola pra temperar a janta
Comprei roupa pra alimentar o ego
Andava tão magro o coitado
Decidi deixar o tempo avisar
Se vai cair, se vai curar.

10 de mar. de 2010

Escuta

Aquela
Alegria

Toda
Prova
De amor
É pouca
Boca
Com
Boca
Unhas
Nas
Costas
Dentes
Na nuca
Dedos
Na fruta
Me escuta
Me escuta
Quero
De novo
O olho
Que brilha
O sorriso
Que trilha
Essa
Alegria
Aquela
Alegria
De outro
Dia.

O troco

Contei todos os ladrilhos, todos os mendigos,
Todas as claves da Avenida São João
Ouvi todas as buzinas, cruzei as esquinas
Olhei móveis usados, cofres enferrujados,
Comi um lanche duvidoso, reclamei do sol
Lá do alto do viaduto, helicópteros
Contemplando o trânsito lento, enquanto
Aqui em baixo, vários corações acelerados
Os trinta e três que estavam encostados
Continuaram deitados depois do tiro
Foi só um estalo, só um grito que se ouviu
Ninguém parou, ninguém sentiu
Segue a rotina, Avenida São João
Deixei alguns trocados no chão.

3 de mar. de 2010

Desatenção

Receio do remorso

Ah... Essas cerdas estão dilacerando
As válvulas de escape, as bobinas
As marcas, as intenções bem vindas

Livre da cegueira das verdades cretinas
Livre dos maldizeres, dos guerreiros cansados
Lamúrias de amor por não querer outras meninas,

Intenso olhar de quem não sabe mais
Inventar poema, buscar quase paz
Imediatamente, o sono bate a sua porta

Naquela vez, era medo da derrota
Neve na porta, o frio não importa
Nessa sina, resta pele, osso e carne viva

E toda essa carícia que me cativa
Esqueça todas as mágoas, toda essa mira
Esvazie os potes, retire o que resta de ira

Perdoa os desavisados, os lerdos, os afastados
Perdoa os diferentes, os fracos, os desviados
Pensa na mudança, na esperança, na semelhança

Pensa na luta passada, na foto guardada
Pensa na mão que não larga a outra mão consolada
Pisa nos cacos, ressuscita a doçura de menina.

Refém

Perdeu o emprego, perdeu a voz
Perdeu o milagre do dia ensolarado
Perdeu alguns trocados a capa vermelha
A armadura de ferro o dedo de agulha
Perdeu a vontade de ter coragem
Derramou a gasolina de seguir em frente
Refém do tempo, refém do vento...

19 de fev. de 2010

Como os meus

Tanto faz

E foi assim
Que a vida ofereceu a ti tantos troféus
De prêmios tão pequenos,
Bem pequenos,
Mais que eu

Sei que te quero forte,
Sei que te quero fraca,
Eu quero teu afago,
Eu quero o teu tapa
Eu busco o teu beijo,
Respeito o teu choro
De tão infantil e tolo,
Receitei o meu remédio
Matei tua anemia,
Dei bom dia,
Tirei teu sono
Eu aceito você larga,
Espero você curta,
Eu espero teu endosso,
Aceito você turva,
Entendo a tua culpa,
Peguei tua dor no colo,
Roubei tua mediunidade,
Uni com boa vontade,
Aprendi uma oração pra
Dar vazão ao que eu sentia
Sei que eu te quero nobre,
Sei que eu te quero pobre,
Não esqueço os teus seios,
Suas curvas,
Seus apelos,
Sei que eu te quero linda,
Sei que eu te quero feia,
Eu quero você jovem,
Meia idade,
Idade inteira
Invado o teu sexo,
Te apresento nossos filhos
Roubo teu travesseiro,
Empresto o meu colo,
Ombro e pernas torturadas
Por toda essa ladeira,
Essa cadeira, essa escada
Sei que eu te quero inteira,
Aceito os teus pedaços
Sei que eu te quero viva
Não suporto você longe
Prefiro minha alergia
Que a saudade de outro dia

E foi assim
Que a vida ofereceu a ti tantos troféus
De prêmios tão pequenos,
Bem pequenos,
Como os meus.

9 de fev. de 2010

Breves relatos 5 - Amarelou

Texto e Design: Leo Curcino

5 de fev. de 2010

Breves relatos 4 - Fome

Texto e Design: Leo Curcino

4 de fev. de 2010

Breves relatos 3 - São Longe de lá

Texto e Design: Leo Curcino

29 de jan. de 2010

Breves relatos 1 - Portão

Texto e Design: Leo Curcino

18 de jan. de 2010

40 anos

60 e poucos

Do alto dos meus 60 e poucos,

Vivi coisas pelas quais omitiria
Eu vi milagres, ouvi espíritos,
Presenciei assaltos e atropelamentos
Bati o carro quando passei no sinal verde
Saí ileso quando atravessei no vermelho
Morei em metrópole, morei no interior
Só vi o mar depois dos 20
Dei esmola, pedi aumento
Pedi demissão, fui demitido
Montei empresa, fechei empresa
Fiquei rico e torrei tudo em viagens
Urinei no Ganges e no Nilo
Fiquei entediado em Paris, Londres e Milão
Comi cogumelo em Amsterdam
Quebrei o braço esquiando em Bariloche
Desenhei mulher nua sem musa
Escrevi poema de amor sem amar
Escrevi poema de amor e entendi,
Depois que decidi te encontrar
Minha poesia ganhou rima
Ganhou ritmo, ganhou cor
Foram tantas brigas, tantas baixas,
Nada fez oscilar o teu sabor
Nada me fez guardar maior rancor

Você ainda carrega aquele sorriso de menina
Os olhos brilhantes e o corpo de miss
Pra acompanhar toda essa energia, só cafeína,
Ácido, pílula azul, anfetamina,
40 anos desejando a mesma boceta,
Mesma boca, mesma silhueta,
E que se dane o pudor que ainda me resta
Nesses anos que faltam, quero festa,
Quero mimos, quero festa,
Quero bisnetos pelo quintal,
Lençóis limpos no varal

Só pra eu ajudar a sujar e me lembrar
Dos tempos de infância,
seus tempos de
menstruação
Fazer música com aquele velho violão
Fazer arte, viver, ficar na memória,
Fazer parte, ser, fazer história.

7 de jan. de 2010

Tentou chegar

Subiu a serra

Subiu correndo aquela serra
Parou quando avistou o lindo mar
Cogitei subir logo em seguida,
Mas, talvez, alguém a espere lá
O sol ia descendo e ninguém vinha
O que fazia aquela menina sozinha?
Com certeza, outros já subiram
Provavelmente, todos já desceram
Outros querem subir agora,
Mas sinto que essa é a minha vez
Vou tentar, o que tenho a perder?
A subida é íngreme, o piso escorregadio,
A caminhada pode levar dias...
Será que consigo chegar até lá?
Será que ela ainda vai estar?
E se outro chegar primeiro?
Devem ser tantos pelo caminho...
Tentei, caminhei até cansar e
Procurei não contar as escorregadas,
Nem quantas vezes fiquei com fome,
Tomei chuva e pensei em voltar
Cheguei no dia 17 de janeiro
Ontem, alguém chegou primeiro,
Mas quando cheguei, não estava lá
Ela sorriu e estranhou meu sotaque
Dizia que eu falava assim arrastado
Como na Bahia, como no cerrado
Não esqueci daquele dia
Ainda não perdi a minha vez
Será? Sei que outros sobem
Não sei se chegam, não se se caem
Nem se ela espera alguém chegar
Só sei que a vista é linda,
Valeu a pena tentar
Decidi, não desço mais.