29 de jan. de 2010

Breves relatos 1 - Portão

Texto e Design: Leo Curcino

18 de jan. de 2010

40 anos

60 e poucos

Do alto dos meus 60 e poucos,

Vivi coisas pelas quais omitiria
Eu vi milagres, ouvi espíritos,
Presenciei assaltos e atropelamentos
Bati o carro quando passei no sinal verde
Saí ileso quando atravessei no vermelho
Morei em metrópole, morei no interior
Só vi o mar depois dos 20
Dei esmola, pedi aumento
Pedi demissão, fui demitido
Montei empresa, fechei empresa
Fiquei rico e torrei tudo em viagens
Urinei no Ganges e no Nilo
Fiquei entediado em Paris, Londres e Milão
Comi cogumelo em Amsterdam
Quebrei o braço esquiando em Bariloche
Desenhei mulher nua sem musa
Escrevi poema de amor sem amar
Escrevi poema de amor e entendi,
Depois que decidi te encontrar
Minha poesia ganhou rima
Ganhou ritmo, ganhou cor
Foram tantas brigas, tantas baixas,
Nada fez oscilar o teu sabor
Nada me fez guardar maior rancor

Você ainda carrega aquele sorriso de menina
Os olhos brilhantes e o corpo de miss
Pra acompanhar toda essa energia, só cafeína,
Ácido, pílula azul, anfetamina,
40 anos desejando a mesma boceta,
Mesma boca, mesma silhueta,
E que se dane o pudor que ainda me resta
Nesses anos que faltam, quero festa,
Quero mimos, quero festa,
Quero bisnetos pelo quintal,
Lençóis limpos no varal

Só pra eu ajudar a sujar e me lembrar
Dos tempos de infância,
seus tempos de
menstruação
Fazer música com aquele velho violão
Fazer arte, viver, ficar na memória,
Fazer parte, ser, fazer história.

7 de jan. de 2010

Tentou chegar

Subiu a serra

Subiu correndo aquela serra
Parou quando avistou o lindo mar
Cogitei subir logo em seguida,
Mas, talvez, alguém a espere lá
O sol ia descendo e ninguém vinha
O que fazia aquela menina sozinha?
Com certeza, outros já subiram
Provavelmente, todos já desceram
Outros querem subir agora,
Mas sinto que essa é a minha vez
Vou tentar, o que tenho a perder?
A subida é íngreme, o piso escorregadio,
A caminhada pode levar dias...
Será que consigo chegar até lá?
Será que ela ainda vai estar?
E se outro chegar primeiro?
Devem ser tantos pelo caminho...
Tentei, caminhei até cansar e
Procurei não contar as escorregadas,
Nem quantas vezes fiquei com fome,
Tomei chuva e pensei em voltar
Cheguei no dia 17 de janeiro
Ontem, alguém chegou primeiro,
Mas quando cheguei, não estava lá
Ela sorriu e estranhou meu sotaque
Dizia que eu falava assim arrastado
Como na Bahia, como no cerrado
Não esqueci daquele dia
Ainda não perdi a minha vez
Será? Sei que outros sobem
Não sei se chegam, não se se caem
Nem se ela espera alguém chegar
Só sei que a vista é linda,
Valeu a pena tentar
Decidi, não desço mais.