14 de jul. de 2014

Sexta, sábado, domingo

Acordei e fui testemunha de um céu lisérgico
Desses que nem a cortina quer esconder
Tinha dormido bem e era sábado,
Mas a cama vazia dava o tom de cinza
Cinza quase castanho, o azul desbotou
Minha mão tateou o vácuo, despertador tocou
Tinha mensagem sua, de texto, de voz
Sem teu corpo ali do lado, ao menos dados
Justo hoje que eu queria fatos e fotos
Sempre quero, coleciono prints de você
Preferiria colecionar abraços sem partida,
Breves retornos, beijos sem despedida
Nesse romance à prazo, aceito pagar à vista
Veio a quinta, é só amanhecer pra você chegar
Sábado volta a ser sábado e o domingo azul
Semana que vem é triste, você não vem
É tempo do azul virar cinza e o sábado domingo.

9 de jul. de 2014

O festival

Foi em 2011, mas tanto faz,
Podia ter sido 2008 ou 7
Naquele festival de cinema,
Foi a melhor cena que eu vi

E não estava em nenhum filme
Não disputou nenhum prêmio
Pode até ter escapado das lentes,
Mas meus olhos captaram em 24 frames

Virou um belo plano sequência, one shot
Um take e já merecia até tapete vermelho,
Leão em Cannes, Urso em Berlim

Passei os próximos anos querendo um remake
Tentei, mandei roteiro, não vinha
Não tinha disponibilidade a atriz principal

Escrevi outro plot, criei outro shot
Suspirei quando aceitou fazer meu filme
A musa veio, produzi e filmei. FICA?

20 de jan. de 2014

É

Quando eu te vi subindo as escadas do Hortomercado, vindo ao meu encontro, eu torci com todas as minhas forças que você fosse uma chata, fosse metida a besta, gostasse só de música ruim, ficasse o tempo todo no celular, que o seu perfume me desse alergia, mas não, nada disso. E você ainda tinha que chegar com aquele sorriso de deixar a vida em slow motion por alguns instantes.

Mais tarde, quando saímos pra jantar, eu torci pra nossa conversa não fluir e os dois ficarem olhando para o relógio a cada dois minutos até que um começasse a bocejar e o outro pedisse a conta. Eu tentei te olhar e te achar feia. Quando te beijei, torci pra não gostar, pra ser sem graça, sem gosto, sem vontade. Mas não, nada disso. E você continuava com aquele sorriso de deixar cada segundo durando quase um minuto, sem que a gente perceba o tempo passando.

No dia seguinte, me restou torcer pra que eu não sentisse vontade de te beijar de novo, que fosse coisa das várias cervejas da noite anterior. Torci pra perceber que você é fresca, te achar burrinha, sem conteúdo, pra que você fosse do tipo que disputa minha atenção com os amigos ou do tipo que fica pedindo pra gente se sentar bem na hora do show. Mas não, nada disso. Ficou ali esbanjando simpatia e, vez ou outra, me olhando com aquele olhar de "vem cá".

No domingo, já não tinha mais esperanças, já não torcia. Quis que você se atrasasse no encontro pra ver se ficava com um pouco de raiva de você, mas você chegou primeiro que eu. Transformou um simples passeio no shopping center na coisa mais divertida do mundo. Quase perdemos a hora da sessão de um filme que eu queria muito ver por causa da prosa solta. Era agora. Você tinha que ser do tipo que falava o filme inteiro, dormisse e perguntava o que tinha perdido. Era a minha última chance de não gostar de você. Mas não, claro que não. Fez foi ficar me fazendo carinho na mão o filme inteiro.

É... É.

Hoje, antes de partir, tive um sonho ruim com você. A gente precisa mesmo dessas fugas de realidade, de vez em quando.