3 de set. de 2010

Quando eu morrer, vá ao meu velório

Quando eu morrer, vá ao meu velório, por favor. E se não for pedir muito, chore um pouco e coloque flores no caixão. Chame os mendigos, os amigos dos seus amigos. Chame os que estiverem passando por lá. Só não deixe aquele lugar vazio, pelamordedeus. Vai parecer que minha vida não fez sentido.

O problema de morar longe, ser fechado e meio nômade é que você não desenvolve laços, não cria vínculos. Quem em sua sã consciência vai até tão longe para se despedir de um semi-amigo? O mundo é das conveniências. No máximo, vão me mandar um e-mail ou deixar uma mensagem fúnebre no Facebook. Mensagem a um defunto. É a vida convertida em bytes.

Tenho medo de ir embora sem deixar nada, sem deixar herdeiros, ir embora às pressas, sem fazer diferença. E se a namorada me deixa antes de virar esposa? E se meus amigos me esquecem? Meus sócios me expulsam e compram minha parte? Meus funcionários me processam? E se minha hora for daqui a pouco?

Senhor, se tu existes mesmo, não me deixes cair em ostracismo. Não me deixe ir sem deixar, ao menos, vaga lembrança, uma mensagem de esperança e meia página de versos guardados.