18 de nov. de 2010

A cura para todo mal

Renúncia

Não se desespere não, amor
Nosso amor não tem cura
Ele é a cura para todo mal
É o que resta depois da festa,
É o que fica depois do beijo,
Depois do gozo, depois do banho
É desejo de vingança, outra dança
É o princípio do acaso infinito,
Do passado bem dito, futuro bem quisto
É nossa eterna infância, esperança
Pensa que pode ser e será
Sei que andou pensando em virar lembrança
Olhou e relutou com a aliança 
"Será que me amas de leve
Ou me amas de monte?" - pensou
"Na dúvida, é melhor não amá-lo mais!"
"É isso! Devo esquecê-lo, enfim."
Quis porque quis desejar o fim
Quis porque quis perder a esperança,
Abrir mão da infância, sei lá
Tanto tentou, que cansou de tentar
Devo ser mesmo um sujeito despreparado
Falta o caminho, falta cuidado
Falta o teu corpo e o sutiã apertado
Falta mais aquele eu que mora afastado
Fui buscá-lo, mas não encontrei
Deixou um recado anotado
Com os garranchos pintados de azul
"Só volto se ela disser que fica.
Mas tem que ficar bem ficado,
Querer bem quisto, amar de monte,
Como eu quero, como eu amo."
E não se esqueça mais
Que nosso amor não tem cura
Ele é a cura para todo mal.

16 de nov. de 2010

5 anos e 5 meses

Nascimento

Uma dor de dente inesperada tirou-o do trabalho mais cedo. Um dos sócios até ligou dizendo que havia um trabalho urgente aguardando aprovação, mas ele foi firme e disse que só veria isso no dia seguinte. Depois do dentista, foi direto para casa. Acabou cochilando no sofá. Não conseguia se lembrar qual fora a última vez que dormira a tarde.

Levantou, foi até a cozinha assaltar qualquer coisa na geladeira e depois caminhou até seu quarto. Sua esposa estava para chegar. Se o trânsito estivesse bom, em uma hora e meia, ela estaria em casa. Naquele momento, sentiu uma grande vontade de estar com ela, abraçá-la, buscá-la no trabalho, levar ao cinema, para jantar, perguntar se ela gostaria de se casar com ele, etc e tal. Ficou imaginando-a com aquela voz doce "Mas amor, nós já estamos casados já faz uns 2 anos!" e ele responderia surpreso com aquele sotaque que sempre o acompanhava "É verdade. Então casemos de novo, que tal?" e ela iria sorrir bem sorrido. Era gostoso imaginar ele imaginando aquilo. Podia sentir daqui a felicidade dele.

Abriu a caixa no fundo do armário e ficou revirando as fotos e os bilhetinhos da época de solteiro. Divertiu-se muito lembrando-se da origem das brincadeiras que ainda acompanham o dia a dia deles. O amor é uma eterna descoberta. O casamento então, mesmo tendo tudo par ser monótono e morno, é feito de microdescobertas diárias e novidades eventuais. Começou a pensar de como gostava daquela rotina, pois valorizava os dias em que um dos dois decidiam quebrá-la. Pensou no Xadrez das segundas, a Canastra com os vizinhos do apartamento de baixo, o cinema das quintas, o jantar fora das sextas e os passeios dos domingos. Nem toda rotina é chata, mas decidiu que aquele dia era um daqueles dias de se quebrar a rotina.

Catou uns dois pacotes de post-its e começou a escrever tudo o que vinha pela frente, tudo que o fazia lembrar dela. Encheu as paredes e móveis da casa de termos indecifráveis e sem sentido algum, a não ser para eles mesmos. "Veio janeiro", "Fevereiro e Junho", "17, 02 e 25", "Boraceia", "pppsp", "feromônio" e até "touro mecânico" eram algumas das coisas que consegui passar os olhos. Não fazia a menor ideia do que poderiam ser, mas ele estava certo de que ela entenderia.

No dia seguinte, iria fazer 5 anos e 5 meses que eles estavam juntos. Houve uma época em que eles comemoravam todo mês. Já fazia um tempo que não faziam isso, mas ele decidiu que hoje iriam comemorar. No chão da sala, de frente para a porta da entrada, fez um cartaz all type com letras bem trabalhadas que quase pareciam figuras. O cartaz dizia "Feliz 5 anos e 5 meses, amor. Quer se casar comigo?".

Escondeu-se debaixo da cama feito criança. De repente, o trinco da porta anunciava a chegada de alguém. Era ela.

Quase nove meses depois, em um belo dia dezessete de primavera, Isabela veio ao mundo.

8 de nov. de 2010

Partiu...

Desencontro

Sentou na calçada para chorar as mágoas tripudiadas
As vistas cansadas, as ausências pré datadas
Chorou as dívidas impagáveis e brigas recentes
Lamentou a nulidade profissional e a crise pessoal
Embriagou-se da angústia congestionada
Sentiu-se como barco à vela em tempestade
Como aeromotor em turbulencia
Ficou sem freios, só anseios
Perdeu a cabeça e a cabelo
Perdeu-se

Se encontrá-lo, por favor, me avise
Sua mãe ainda espera revê-lo
Talvez, seja a única.