27 de jun. de 2008

A prosa dele com ele 1

Hoje ele acordou querendo ser forte. Escovou os dentes com força. Mastigou com força o pão com manteiga. Fechou com força a porta da sala. Apertou com força o botão do elevador. Força, excesso de força. O que ele pretendia com tudo aquilo? O que ele queria provar pra quem? Ele estava se distanciando das pessoas importantes, cada dia mais. Seguia uma rotina formal do-trabalho-pra-casa-da-casa-pro-trabalho. Pensando bem, será que essas pessoas importantes são realmente importantes? Será que elas realmente se importam? O fato é que agora era nada além de seu quarto e suas velhas anotações. O que ele tanto anotava? O que ele tanto pensava? Afinal, ele sempre foi tão acostumado a nunca ter razão. Por que isso o incomoda tanto agora? A verdade é que uma hora cansa. Nem o mais inerte dos seres humanos consegue viver só de imbróglios sem que isso afete consideravelmente seu estado emocional. E ele sabe que o que é dramático hoje pode ser saudade amanhã. E a saudade um dia aperta. Um dia ela há de consumir todo o seu esforço por mais desesperado que ele seja, até que um dia, de repente, ela vai embora assim como veio.

Algumas semanas se passaram depois do primeiro ataque de saudade. Veio o segundo, o terceiro, o quinto... Ela vinha e voltava na mesma frequência que o beija-flor que as vezes visitava sua sacada. A frequência foi diminuindo progressivamente, mas quando a saudade apertava, apertava muito mais forte que antes. Eram espasmos que o faziam ter vontade de dar voltas pelo quarteirão até morrer de cansaço e repensar toda a rotina do mês. Mas afinal, a rotina do mês que entra não é a mesma do mês que foi?

Já não anotava tantas coisas como antes. Já não pensava em tantas coisas como antes. Ele passara a ser a esperança de ser diferente de tudo que fora um dia. Não queria mais ser ele mesmo porque isso implicava em ser exagerado e sincero, em ser impulsivo e discreto, quase transparente, em ser a sequência do que era ontem e ontem já passou... Hoje ele deveria ser diferente, pensar diferente, andar diferente, gostar diferente, sonhar diferente, querer diferente, porque afinal as pessoas devem ser volúveis (ou não?). Ele pelo menos nunca conheceu alguém que não fosse assim. Teria sido o acaso que o consola ou teria sido o destino que o mantém?

4 comentários:

assinado eu disse...

Até tua prosa tem traços de poesia...

"Eram espasmos que o faziam ter vontade de dar voltas pelo quarteirão até morrer de cansaço [...]"

"Não queria mais ser ele mesmo porque isso implicava em ser exagerado e sincero, em ser impulsivo e discreto, quase transparente, em ser a sequência do que era ontem e ontem já passou..."

É, realmente somos muito parecidos, Leo. huahuha

Lívia Freitas disse...

Legal saber que escreve em prosa tamb�m, com muito talento.
Sempre quero ser diferente no dia seguinte. Nunca percebo que mudo ao colar meus olhos no 'ontem'...bjos

˙·٠•● ѕεறிoτιvo ◦ disse...

Talvez seja a força de cada dia que lhe convém!
Ray

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