17 de out. de 2019

Imprevista e insana

Desde o primeiro passo em seu costumeiro lar,
Me senti como se estivesse exatamente
No único lugar onde realmente deveria estar
E pouco me importava se era Jaó ou Marista
Se era sobrado ou kitnet, no escuro ou no claro,
No sofá da sala ou entre as almofadas do quarto
Só queria passear pelas curvas do teu bosque
Até que a passarada anunciasse o amanhecer
E poder voltar no dia seguinte, desacelerado
Medir e sentir delicadamente palmo a palmo
Depois forte, depois lento, depois sóbrio
Deslizar em teu corpo embaraçado a finas teias
E te apresentar minha alma que sente e vibra
Nem que seja só pra desmistificar as causas vãs
E te ajudar a recolher as folhas secas da varanda,
Os discos furados e todos estes cacos na cozinha
Eu sei que carrego um lado torto e outro corcunda,
Mas deixa eu jogar fora toda essa lama imunda?
Vim enaltecer sua força inquieta, imprevista e insana
Que me trouxe de volta o coração ardente e em chama
E agora? Eu fico? Por que ir daqui, se é tão bom ficar?
Se a vida é mesmo essa rude aventura passageira,
Por que chorar tortuosamente, se o tempo não volta?
Pra que se o "não" é sempre o que mais passa ligeiro?
Melhor mesmo é curtir contigo cada nota desse canto
Ou jogar Desafino em uma exausta tarde de domingo
Seja na praia ou cachoeira, Pinheiros ou Ipiranga
Planejando a próxima viagem ou lembrando da última
Quer ficar e contar comigo as esquinas do caminho
Até a gente perder a conta e a vontade de contar?
Não sei quantos quilômetros tem a nossa estrada
Tampouco, sei qual é a velocidade máxima permitida
Mas desse lado da janela, vejo ipês e mudas novas
Vejo nuvens desenhadas, céu azul e águas calmas
Nenhuma placa de Stop ou de curva sinuosa
Sigamos assim, como um pincel traçando obras novas.

Nenhum comentário: